quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Terrorista e a maçonaria..




Texto brilhante de autoria de meu amigo português, Jorge Pires Ferreira, publicado no ótimo blog " Tribo de Jacob";



O sofrimento da Noruega é maior do que qualquer tentativa de explicação. O silêncio é a melhor atitude para com vítimas, familiares e nação. Mas confesso que me deixou incomodado que entre os qualificativos do principal suspeito, o norueguês Anders Behring Breivik, surgisse o de “cristão”.

Os jornais e a televisão (não ouvi rádio nem procurei na internet) dizem sempre que se trata de um fundamentalista cristão. Mas não dizem que cristão é. Católico? Luterano? Calvinista? De uma seita? Eu gostaria de saber, embora ainda não me tenha me dado ao trabalho de procurar activamente. A informação que vem ao meu encontro, sem grande esforço pessoal, (jornais e tv) não esclarece. Mas ficam sempre as ideias do “cristão fundamentalista” e do “cristão terrorista”.



Não penso, como aquela senhora que dizia que “se é ditadura, não é de esquerda, ponto final”, que se é cristão não pode ser fundamentalista. Na verdade, conheço alguns cristãos fundamentalistas, mas sei que nunca pegariam numa arma para matar pessoas. Há-os, ainda que eu gostasse que não houvesse, nem veja bem como se pode ser terrorista e acreditar no Evangelho sem ser por patologia.

Por outro lado, por vezes, mas nem sempre, a imprensa tem omitido que o terrorista norueguês pertenceu à maçonaria.

Ferreira Fernandes escreve no DN de hoje:



Norueguês, cristão, conservador, de extrema-direita, qualificativos a que se podem acrescentar outros, terrorista, fazendo um todo que não é por estar junto (por exemplo, um terrorista cristão) pode ofender os noruegueses, cristãos, conservadores ou de extrema-direita que não são terroristas. Sim, há terroristas cristãos e Anders Behring Breivik é a prova.


Por uma questão de honestidade, devia estar logo no início “maçon”. E o trecho acima poderia terminar desta forma sem faltar à verdade: “Sim, há terroristas maçons e Anders Behring Breivik é a prova”. Mas não seria tão mediático.






















http://tribodejacob.blogspot.com/2011/07/macon-terrorista.html

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Memória : África do Sul, Urgente ! 1988



Introdução



Logo no início deste blog, na época da Copa do Mundo de Futebol, realizada ano passado, na África do Sul, escrevi uma pequena matéria histórica a respeito da relação existente entre o cristianismo, principalmente protestante, e o regime do apartheid sul africano.

Vasculhando os arquivos da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, comunidade a qual ainda estou vinculado, mesmo sendo estagiário de meu presbitério em duas outras comunidades da IPIB, encontrei um artigo histórico, de autoria do Rev.Abival Pires da Silveira, na época pastor titular da igreja e, atualmente, gozando da justa emerência.

Sou filho espiritual do Rev. Abival. Seus sermões sempre me alimentaram profundamente. Sua vasta cultura extrapola o mundo teológico. Filósofo formado pela Universidade de São Paulo ( USP), sempre citou, e ainda cita, grandes pensadores do mundo filosófico em suas homilias.

O texto reproduzido abaixo é fruto de sua pena. Data de 10 de abril de 1988 e foi publicado no boletim dominical da igreja. Nessa época, o apartheid mostrava sua face mais dura na África do Sul.

Julgo que este artigo, repleto de informações históricas a respeito da oposição cristã de orientação reformada ao apartheid, é fundamental, não devendo permanecer esquecido em uma estante no Centro Histórico da mais que centenária igreja localizada no centro da capital Paulista.

Vamos ao texto.


África do Sul, Urgente.

Recebemos, esta semana, uma correspondência oficial do secretário geral da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas, Rev.Dr.Edmond Perret. Essa correspondência foi ditada pela situação delicada na África do Sul e que vem se agravando mais e mais nos últimos dois meses. A delicadeza do momento chegou a tal ponto que a Aliança enviou à África do Sul uma delegação constituída de três membros :

- Rev. Dr.Edmond Perret, Secretário Geral;
- Reva. Slvia Michel, membro da Diretoria da Federação Suíça de Igrejas Protestantes;
- Rev. Joachim Guhrt, Secretário Geral da Aliança de Igrejas Reformadas da República Federal da Alemanha.

com a finalidade de protestar junto ao governo da África do Sul contra as medidas discricionárias adotadas contra líderes e contra Igrejas que não apóiam a política oficial do apartheid e, ao mesmo tempo, levar o apoio da comunidade reformada mundial a esses líderes e a essas igrejas tanto em palavras como em atos e orações. O relatório oficial da Comissão destaca:

1- O endurecimento cada vez maior do governo sul africano em impor sua política de apartheid.
2- As ameaças contra o Rev.Dr Allan Boesak, presidente da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas e um dos líderes do movimento anti-apartheid.
3- Falsas acusações contra o Dr.Boesak e o bispo Desmond Tutu como sendo agitadores a serviço da causa do comunismo na África.
4- Pressões sobre eles e outros líderes protestantes com prisões arbitrárias como instrumento de coação e amedrontamento.
5- Pressões sobre as igrejas que abertamente condenam a política oficial do apartheid.

Do pronunciamento da delegação quando ali esteve destacamos o seguinte trecho : “ nossa delegação deixa claro que as acusações e ameaças contra seu Presidente, Dr. Allan A. Boesak, são de fato dirigidas contra a Aliança Mundial de Igrejas Reformadas que não ficará indiferente e invocará o repúdio de suas 164 igrejas membros e de seus 70 milhões de fiéis”. E mais adiante : “ Nós asseguramos ao Dr. Boesak, sua esposa, seus filhos, sua família- e asseguramos a todos que aqui sofrem no corpo e na alma- nossa solidariedade, nosso apoio e nossas orações. Pedimos às nossas igrejas em todo o mundo o suporte espiritual a favor de todos aqueles que lutam e trabalham por mudanças pacíficas e dão seu testemunho profético na África do Sul”.



A correspondência termina pedindo que as igrejas membros da Aliança enviem telegramas de apoio ao Rev.Boesak e instem junto ao governo de seus países por ações e medidas concretas de repúdio ao apartheid sul africano.



É nesse espírito que compartilhamos com a Primeira Igreja e a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, a delicada situação sul africana.
Somos um só corpo em Jesus Cristo e não há um só membro desse corpo que sofra sem que todo o corpo não sofra com ele.

Rev. Abival Pires da Silveira
Domingo, 10 de Abril de 1988.


sábado, 25 de junho de 2011

Vegetarianismo nas religiões- Parte 1 : Religiões indianas ou védicas

Introdução.

Este é um blog cristão. Sem abrir mão da doutrina de Cristo como mediador e caminho para Deus, reconhece, contudo, expressões da verdade em crenças não vinculadas ao cristianismo.

Esta ideia, da veracidade de determinados elementos doutrinários e práticos em crenças tão distantes da tradição judaico-cristã, não é nova. Também não é fruto da cabeça de algum " liberal relativista", de acordo com a concepção tacanha de alguns fundamentalistas.

No período da Reforma, Zwínglio, o reformador suíço, recorrendo ao pensamento de teólogos patrísticos como Justino e Orígenes, afirmou que, na antiguidade, a salvação e a verdade não se encontravam sob posse exclusiva do povo hebreu, mas estendiam-se, de acordo com a soberania divina, para vários povos. Como argumento decisivo, o reformador de Zurique citava a sublimidade existente na filosofia grega.

Já no século XX, esse conceito foi defendido por teólogos de diferentes matizes. Karl Rahner, importante teólogo católico suíço, defendia essa tese. C.S.Lewis, pensador anglicano de orientação evangelical, também partilhava tal pressuposto.

Portanto, como cristãos, temos muito a aprender com outras crenças. O mesmo vale para com o ateísmo e agnosticismo. Deus é soberano e fala de diferentes maneiras.

Feita esta pequena introdução, estou inaugurando uma seqüência histórica a respeito do vegetarianismo em diferentes crenças. Contudo, gostaria de deixar uma coisa bastante clara. Não pretendo dogmatizar o vegetarianismo. Sou vegetariano há cerca de um ano. Foi uma escolha pessoal, sem nenhuma ligação com minha fé cristã evangélica. Se fosse ateu, também seria vegetariano.

A série será inaugurada avaliando o vegetarianismo nas chamadas religiões védicas, caso do hinduísmo, jainismo e budismo.

Autor da Introdução : André Tadeu de Oliveira


O presente artigo foi retirado do site hindu Mokshadharma

http://mokshadharma.blogspot.com/2008/10/psicologia-indiana.html


Vegetarianismo Hindu e o Ayurveda


Preceitos éticos levaram à introdução do vegetarianismo em algumas religiões da antiga Índia e estabeleceram os fundamentos de uma autêntica prática religiosa(Hinduism, Jainism and Buddhism). No jainismo o vegetarianismo é uma imposição, no hinduísmo e no budismo mahayana é proposto por textos relevantes. Em contraste, nas religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo) e no sikhismo o vegetarianismo não é uma prática oficial. Entretanto, no cristianismo e no sikhismo alguns segmentos promovem o vegetarianismo como disciplina religiosa.

Hinduísmo

O vegetarianismo tem um papel importante na tradição hindu, embora existam diversas variedades de práticas e crenças que se transformaram ao longo do tempo. Estima-se que cerca de 30% dos hindus são vegetarianos. Entretanto, algumas seitas hindus não observam o vegetarianismo.




Não Violência

O princípio da não-violência (ahimsa) foi introduzido pelo budismo e pelo jainismo como reação às práticas sacrificiais de animais e humanos existentes no primitivo brahmanismo. Acredita-se que o sofrimento de todos os seres resulta das ambições e desejos e condicionam efeitos kármicos. A violência no abate de animais para alimentação é fruto do desejo e comer carne condena os seres humanos ao sofrimento.

O Hinduísmo incrimina os responsáveis pelo abate animal, os que matam e os que o retalham, os que vendem e os que compram, quem cozinha, quem serve, e quem o come devem ser considerados assassinos do animal. As questões que envolvem os deveres religiosos e do Karma negativo gerado pela violência (himsa) contra animais é discutida em pormenor nas escrituras hindus e nos textos religiosos normativos.

Segundo as escrituras hindus do período védico (que perdurou até cerca de 500 AC), em princípio, era permitido comer carne, mas houve uma restrição específica nas regras. Várias escrituras respeitáveis proibiram a matança de animais domésticos, exceto no caso do sacrifício ritual. Preceito claramente expresso no Mahabharata (3.199.11-12; 13,115; 13.116.26; 13.148.17), no Bhagavata Purana (11.5.13-14), e nos Chandogya Upanishad (8.15.1). Também se encontra no Manu Smriti (5.27-44), a renomada obra jurídica hindu (Dharmasastra). Estes textos condenaram veementemente o abate de animais e o consumo da carne, a menos que ocorressem no contexto dos sacrifícios rituais executados pelos brahmanes. O Mahabharata permite aos guerreiros profissionais (Kshatriyas) caçar e comer carne "para adquir força e coragem" (13.115.59-60; 13.116.15-18), mas se opõe a essas atividades, no caso de samnyasins (renunciantes) que devem ser rigorosamente não-violentos.

O Mahabharata (12,260; 13,115-116; 14,28) e o Manu Smriti (5.27-55) contêm longos discursos sobre a legitimidade do abate ritual e do conseqüente consumo de carne. No Mahabharata ambos, os carnívoros e os vegetarianos apresentam diferentes argumentos para fundamentar os seus pontos de vista. Estes textos mostram que tanto o abate ritual e a caça foram contestados por defensores da não-violência, tema polêmico de difícil aceitação. No hinduísmo moderno o abate ritual permitido nas escrituras védicas praticamente desapareceu.

Aspectos Espirituais

Em algumas tradições, especialmente no Vaishnavismo, é essencial que os devotos ofereçam o alimento à divindade escolhida antes de comê-lo como Prasad. Esta regra é rigorosamente observada pelos discípulos do Bhakti Yoga, especialmente os Gaudiya Vaisnavas. Adoram Vishnu ou Krishna, e de acordo com as injunções das escrituras que obedecem, apenas a comida vegetariana é aceitável como Prasad.

O vegetarianismo é compulsório também para os praticantes de Hatha Yoga. Os preceitos das escrituras como o Bhagavad Gita orientam para comer apenas alimentos de alta qualidade, porque o alimento modela a personalidade, o caráter e a mente. O consumo da carne induz à confusão mental e à ignorância, e ao indesejável estado mental conhecido como Tamas, enquanto uma dieta vegetariana promove as qualidades satvicas essenciais para progresso espiritual.


Budismo

O primeiro preceito do budismo proíbe não matar, ao contrário, o mandamento bíblico (Não Matarás) se aplica apenas aos seres humanos. O primeiro preceito sempre foi aplicado tanto aos animais como aos seres humanos implicando o não consumo de carne pelos budistas. Em alguns sutras Buda condena energicamente a ingestão de carne. No Mahayana Mahaparinirvana Sutra, Buda afirma que "comer carne destroi a semente da grande compaixão", acrescentando que o consumo de todo e qualquer tipo de carne ou peixe é uma contravenção, o consumo de carne é incompatível com a grande compaixão e estabelece o vegetarianismo como o correto sistema alimentar. Buddhist vegetarianism


O Ayurveda e a alimentação vegetariana

O Ayurveda reconhece o poder da alimentação e dos hábitos alimentares na restauração e preservação da saúde. Caraka (300 AC), renomado médico da antiga Índia, afirma que alimento é vida.

Textos antigos extraídos do Ayurveda estão repletos de exemplos relevantes de curas de doenças através da alimentação, bem como da manutenção da saúde. Eles priorizam a alimentação vegetariana que é considerada sátvica - a melhor forma para o consumo humano entre as três categorias ou qualidades (guna), as outras duas são a rajásica e a tamásica em ordem decrescente de qualidade.

O consumo regular de alimentos sátvicos previne doenças, promove melhor saúde física, mental e espiritual. De acordo com o Ayurveda, consumir alimentos sátvicos e adotar uma forma de vida sátvica é a melhor medicina preventiva.


Alimentos sátvicos, Rajásicos e tamásicos

A alimentação sátvica é a vegetariana orgânica que é natural e revigorante. Abrange frutas frescas e legumes, cereais, pães integrais, nozes, sementes e saladas. Alimentos que têm um sabor naturalmente doce são sátvicos, mas não inclui produtos com açúcar refinado, refere-se a qualquer coisa que tem um gosto doce sem aditivos químicos, como os cereais (arroz, trigo e cevada), pães, mel e frutas. Também estão incluídos neste grupo leite, chás, sucos de frutas ou de vegetais orgânicos e água. Alimentos cultivados organicamente são os preferíveis e, fertilizantes, pesticidas, produtos químicos e conservantes são tamásicos. Cogumelos, cebola, alho e o uso excessivo de especiarias devem ser evitados, pois são rajásicos e/ou tamásicos. Álcool, produtos que contêm cafeína (café, chocolate, chá, cola) e carne devem eliminados da dieta.

Equívocos sobre o consumo de carne no Ayurveda

As legítimas prescrições de dietas ayurvédicas estão baseadas no vegetarianismo, entretanto, ocorreram equívocos sobre a dieta vegetariana, e do papel do vegetarianismo no Ayurveda. Alguns autores defendem o uso de carne em suas orientações dietéticas, ou asseguram que pessoas com constituição vata necessitam de proteínas de origem animal. Outros afirmam que o ayurveda baseia-se no vegetarianismo por motivos religiosos, ao invés de razões biológicas ou preocupações com a saúde.

É verdade que o consumo de carne foi incluído nos textos originais do ayurveda, Caraka declara que a carne tem valor terapêutico quando preparada e consumida em condições específicas. No entanto, isto ocorreu em circunstâncias muito diferente dos atuais métodos de produção e consumo. A carne aparece como pequena parcela da dieta total, e era obtida através dos métodos tradicionais de caça em ambiente natural onde os animais viviam em seu habitat natural.

Caraka estabeleceu as diretrizes para o correto consumo de vegetais e de produtos animais, incluindo as características dos animais que não devem ser consumidos. Além disso, Caraka não recomenda o consumo habitual de carne como se propaga frequentemente. Pelo contrário, Caraka afirma que a carne tem grande valor quando utilizada para tratamentos de certas doenças, para os debilitados ou convalescentes, ou nos estados de desidratação ou definhamento. Se o animal sofreu morte natural, se foi morto por outros animais ou através de envenenamento, se for muito magro, gordo, velho ou jovem, comer sua carne é prejudicial à saúde. (Sutra Caraka Samhita 37:311)

Anatomia humana e a carne

Biologicamente, os humanos são mais adaptados a uma natural dieta vegetariana, pois seus dentes e a mandíbulas não são adequados para a dieta carnívora. Pesquisadores da Universidade do Arkansas e da John Hopkins School of Medicine dedicaram anos de estudo na análise do formato e dos padrões de desgaste dos dentes humanos confrontando as correspondentes dietas de primatas e de nossos fossilizados antepassados. Dentes com cúspides moderadamente acentuadas, como os nossos, só foram utilizados para o corte de alimentos como frutas, nozes, brotos, folhas e flores.
Os carnívoros têm características biológicas estruturalmente diferentes dos herbívoros. Seus intestinos são curtos e os ácidos digestivos são muito fortes, enquanto o comprimento do intestino humano é de três a quatro vezes maior do que o de um carnívoro típico, e com produção de ácidos digestivos mais fracos. A carne, por conseguinte, leva muito tempo para ser digerida, às vezes por vários dias. Nesse tempo, uma quantidade significativa de toxinas (ama) é estocada produzido o auto-envenenamento. Dr. Jenson, proeminente nutricionista norte-americano, expressa este conceito claramente quando afirma: "As proteínas animais apodrecem muito rapidamente no trato intestinal... A fermentação ocorre em condições intestinais que favorecem a multiplicação de bactérias tóxicas indesejáveis e destroem as benéficas acidophilus".




É possível obter proteínas de vegetais?

O valor da carne na dieta humana é geralmente associado ao seu conteúdo protéico. É uma falácia a difusão de que a proteína animal é essencial para a nutrição humana e que não pode ser obtida a partir de qualquer outra fonte. As proteínas necessárias para a preservação da saúde e fortalecimento do vigor físico são encontradas em uma ampla variedade de alimentos. Se a “qualidade da proteína” numa escala de avaliação entre 1-100 é aplicada a diferentes alimentos, as aves domésticas ocupam a posição 67e peixes a 80. Em contraste, o leite tem a classificado 82, grãos entre 50-70, leguminosas, nozes e sementes entre 40-60 e verduras cerca de 80. As necessidades diárias de proteínas, na verdade, são inferiores ao que se acredita.

Nos tempos modernos, os problemas com as dietas ocidentais normalmente é excesso de consumo de proteínas ao invés de sua deficiência. Muitos componentes das proteínas metabolizadas pelo corpo humano (aminoácidos) são realmente fabricados internamente. Dos 22 aminoácidos que fornecem proteínas, o corpo humano produz 13, independente das fontes dietéticas. Os restantes podem ser obtidos a partir de alimentos vegetais.
Algumas pessoas acreditam que as dietas vegetarianas são deficientes em vitaminas do complexo B, especialmente a B12. Esta vitamina é essencial na dieta, e sua deficiência pode levar à fadiga, falta de concentração, de memória e insônia. A vitamina B12 pode ser obtida pelo suficiente consumo de leite, queijo e cereais integrais. Uma variada e equilibrada dieta vegetariana evita a necessidade de quaisquer suplementos de vitaminas do grupo B.

Importância do consumo equilibrado

Proteína animal na forma de carne não é essencial para o crescimento humano e seu desenvolvimento, o ser humano pode desenvolver-se normalmente a partir do nascimento, e obter os necessários nutrientes e vivenciar completa saúde com uma dieta puramente vegetariana.

De fato, diversos estudos demonstraram que os vegetarianos têm vida mais longa, com menor incidência de câncer e maior densidade óssea do que os não-vegetarianos.
Um consumo equilibrado de vegetais, grãos, nozes, legumes e sementes fornece quantidades suficientes de proteínas, bem como de todas as vitaminas e minerais necessários para a saúde, conferindo vitalidade e energia. Há uma enorme gama de receitas vegetarianas saborosas e nutritivas, fáceis de preparar e de natureza sátvica que comprovam que a alimentação vegetariana não é apenas uma porção de vegetais e saladas cruas!

Situação atual

Na Índia moderna, os hábitos alimentares dos hindus variam de acordo com suas comunidade ou sua casta de acordo com as tradições regionais. Os hindus vegetarianos geralmente evitam ovos, mas consomem leite e produtos lácteos, assim eles são lacto-vegetarianos.

Segundo uma pesquisa de 2006, o vegetarianismo é pouco praticado no litoral, sendo mais forte no interior dos estados do norte e oeste, e especialmente entre brahmanes que contam com 55 por cento de adeptos. A maioria dos habitantes do litoral consomem peixe. Em particular, hindus do Bengali mistificaram pescadores e o consumo de pescado através da poesia, da literatura e da musica. Segundo as últimas pesquisas é crescente o consumo de carne na Índia.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Evangélicos e o regime militar brasileiro




Texto publicado pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação a respeito da excelente matéria encontrada no último número da revista IstoÉ, onde a relação entre o protestantismo histórico e o regime ditatorial brasileiro é abordada.





Documentos mostram evangélicos nos porões da ditadura




ALC


Torturados e delatores da grei evangélica brasileira ganham visibilidade nos documentos que o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) repatriará oficialmente ao Brasil na quinta-feira, 14, entregando 1 milhão de páginas microfilmadas que estavam no Center for Research Libraries, de Chicago, e 10 mil páginas inéditas da correspondência entre o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e o pastor presbiteriano unido, James Wright.

A revista semanal IstoÉ antecipou, na semana passada, histórias de evangélicos entrevistando pastores e líderes evangélicos que passaram pelo pau de arara e aqueles que os conduziram até os porões da ditadura, nos Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

Os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis, comentou ao repórter Rodrigo Cardoso o antropólogo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, de origem presbiteriana, preso antes do golpe, em 1962, por participar do movimento estudantil.

“Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, disse Fernandes, considerado “elemento perigoso” por pastores que o incluíram numa lista entregue aos militares, depois do golpe.

O pastor batista Roberto Pontuschka, capelão militar, torturava presos à noite e de dia distribuía porções do Novo Testamento aos detentos nas dependências da Operação Bandeirantes (Oban), de São Paulo. Com 21 anos à época, o então seminarista da Igreja Presbiteriana Independente e hoje teólogo e professor de ciências da religião na Umesp, Leonildo Silveira Campos, preso por dez dias pela Oban, em 1969, não esqueceu o método evangelístico do pastor Pontuschka.

Pai de quatro filhos, Anivaldo Padilha, 71 anos, só veio a conhecer o seu filho Alexandre, hoje ministro da Saúde do governo da presidenta Dilma Rousseff, aos oito anos de idade. Em mais de 20 dias de tortura, em fevereiro e março de 1970, no DOI-Codi de São Paulo, o então estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo, com 29 anos de idade e ligado à Igreja Metodista, chegou a pensar em suicídio. Libertado depois de dez meses de prisão, Anivaldo partiu para o exílio, de 13 anos, no Uruguai, Suíça e Estados Unidos.

“Eu tinha muito medo do que ia sentir na pele, mas principalmente de não suportar e falar. Queriam que eu desse o nome de todos os meus amigos, endereços” relatou Anivaldo ao repórter da IstoÉ. Ele descobriu seus delatores há cinco anos, ao ter acesso a documentos do antigo Sistema Nacional de Informações. Quem o delatou foram o pastor José Sucasas Jr. e o bispo Isaías Fernandes Sucasas, da Igreja Metodista, já falecidos, aos quais Anivaldo era subordinado.

Nos anos de chumbo, controlados pelos militares, pedir justiça aos excluídos, defender a reforma agrária e manifestar preocupações sociais eram coisas de comunistas, apoiados pelo movimento ecumênico.

“Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, contou à IstoÉ o mineiro Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU).

Dos 54 estudantes matriculados no seminário teológico de Campinas, 39 foram expulsos em 1967. No mesmo ano, a Igreja Metodista fechou a Faculdade de Teologia de São Paulo e expulsou estudantes e professores. O pastor Boanerges Ribeiro, presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), promoveu uma “depuração interna” na igreja em 1965. A Igreja Presbiteriana Independente (IPI) expulsou dez seminaristas em 1968.

Dois anos depois, a Federação Luterana Mundial cancelou assembléia geral que realizaria em Porto Alegre porque, entre outros motivos, a igreja brasileira convidara o presidente da República, general Emília Garrastazu Médici, para a abertura do evento. Líderes luteranos negavam, então, a existência de práticas de tortura no Brasil.

Vários evangélicos colaboraram com a máquina repressora da ditadura, delataram irmãos e assumiram o discurso do anticomunismo como a salvação do Brasil. “Eu acreditava ser impossível que alguém que se dedica a ser padre ou pastor, cuja função é proteger suas ovelhas, pudesse dedurar alguém”, confessou Padilha.

Nesses anos todos, Padilha descobriu, depois de se deparar casualmente, em festa de Carnaval, com um de seus torturadores, que o perdão é libertador.

"O perdão, para mim, foi uma forma de exorcizar os demônios das torturas que me causaram pesadelos durante quase seis anos. Há situações em que o perdão é mais importante para quem perdoa do que para quem é perdoado. No entanto, isso não significa que eu acho que os torturadores, seus mandantes e colaboradores não devam ser punidos. A punição deles é importante para resgatar a dignidade dos que foram torturados, da memória dos assassinados, das famílias que não puderam ainda sepultar seus membros desaparecido. Além disso, a impunidade contribui para que a tortura ainda seja praticada em larga escala nas delegacias e prisões brasileiras. Em suma, a punição representaria o resgate da dignidade da sociedade brasileira que foi violentada por um regime autoritário", afirmou o metodista.

Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright serão lembrados no ato de repatriação dos documentos que estão de posse do CMI, que terá lugar em São Paulo, amanhã, na Procuradoria Regional da República. Eles foram os grandes articuladores do Projeto Brasil Nunca Mais.

O projeto Brasil Nunca Mais teve início em plena ditadura militar (1964-1985), quando grupo de religiosos e advogados tentou obter, junto ao Superior Tribunal Militar (STM), informações e evidências de violações aos direitos humanos, praticadas por agentes do aparato repressivo. Do projeto originou-se o livro com o mesmo nome – uma compilação com cerca de 5% de toda a documentação levantada no STM.

Os mentores do projeto – em especial a advogada Eny Raimundo Moreira e a equipe do escritório Sobral Pinto – perceberam que os processos poderiam ser reproduzidos .


Agência Latino-Americana e Caribenha de Informações

quarta-feira, 23 de março de 2011

Lançamento do meu livro


Finalmente saiu ! Já está disponível meu primeiro livro. Fruto de minha monografia do curso de teologia no Mackenzie, “Nazismo e Religião, Entre a Aliança e o Conflito”, acaba de ser lançado pela Editora Reflexão.

Abaixo, estou transcrevendo o prefácio do livro, de autoria da professora Suzana Ramos Coutinho Bornholdt, professora do Mackenzie e integrante de minha banca, e uma resenha de minha colega Rayssa Gon, colunista do site BULE VOADOR, onde também sou colaborador.

Para adquirir seu exemplar, entre no seguinte endereço :

http://www.editorareflexao.com.br/Site.aspx/Produto/220-NAZISMO-E-RELIGIAO?store=1



PREFÁCIO DO LIVRO


Autora: Suzana Ramos Coutinho Bornholdt*


Sinto-me feliz e honrada em apresentar ao público brasileiro o livro “Nazismo e Religião, Entre a aliança e o conflito”, de André Tadeu de Oliveira. Ex-aluno do curso de bacharelado em Teologia da Escola Superior de Teologia (EST) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, André surpreendeu os professores da banca ao apresentar seu trabalho com brilhantismo, humildade e desenvoltura.


Este livro é resultado desta dedicação e sucesso. André inaugura aqui um passo importante para acadêmicos e estudiosos da religião. A abordagem histórica utilizada para refletir a respeito do nacional-socialismo alemão e suas relações com diferentes grupos religiosos surge no cenário das publicações brasileiras como um tema inovador.


As perguntas norteadoras deste trabalho mostram que o autor investiu em uma pesquisa de precisão não apenas teórica mas também metodológica, visando não a incorrer na prática comum das generalizações. Reconhecendo as particularidades de cada religião, André ousou ir além. Buscou demonstrar uma relação diferenciada de grupos religiosos específicos com o regime hitlerista, apontando possíveis relações com o movimento. Do mesmo modo, realizou cuidadosa abordagem a respeito do papel do cristianismo. Ao se referir à presença da igreja cristã, André realizou a necessária separação entre o papel do protestantismo e do catolicismo e suas respectivas relações com o regime.


A meu ver, a inovação deste livro recai nos apontamentos feitos pelo autor ao sugerir relativo grau de interação do movimento hitlerista não somente com o cristianismo mas também com religiões as quais a sociedade ocidental enxerga com menos destaque, como o paganismo de origem nórdica, o esoterismo, o hinduísmo, o budismo e o islamismo.


Ao se perguntar até que ponto tais crenças contribuíram com a implantação e a consolidação do poderio fascista em solo alemão e se houve resistência por parte dessas crenças, André estabelece um debate rico e provocador. Não somente por mostrar que crenças tão distintas foram utilizadas como sustentadoras do regime hitlerista, mas também serviram como resposta para o povo alemão, então diante da crise moral que se abateu sobre o país.


Este livro nos relembra os horrores de um período da história que sonhamos nunca mais ver. E ao mesmo tempo nos desperta para a responsabilidade de, como igreja cristã e como cidadãos comprometidos com a justiça, não sermos coniventes e omissos com o abuso do poder político sobre os direitos civis.


*Suzana Ramos Coutinho Bornholdt: Doutora pela Lancaster University, possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina. É professora da EST-Mackenzie.

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RESENHA ESCRITA POR RAYSSA GON

Autora: Rayssa Gon


Enquanto eu lia o trabalho do André Tadeu – Influência das Religiões no Nascimento e Consolidação do Nazismo Alemão- vários adjetivos passaram pela minha cabeça para defini-lo. Acho que o que se encaixa melhor é ousadia. Sem duvida é um livro muito bem projetado e pesquisado, rigoroso e claro, mas a forma como André tratou um tema até hoje tão delicado sem perder o foco ou o espírito investigativo demonstra que ele possui a ousadia necessária a todos os bons pesquisadores.


Um dos pontos que acho mais importante de destacar da tese do André é a relação do Regime Nazista com as Igrejas Cristãs. Ao contrário do que se costuma pensar, o nazismo manteve relações muito mais estreitas com a Igreja Luterana (evangélica) do que com a Igreja Católica. A Reforma Protestante, por ter tido como um de seus pilares Martinho Lutero (nascido em Eisleben, região central da Alemanha), foi considerada fruto essencial de uma germanidade ideal. Muitos entusiastas do regime olharam a Reforma retrospectivamente como uma luta entre uma religião genuinamente ariana contra outra, estrangeira e invasora, no caso a Católica.


As reiteradas demonstrações de apoio dadas ao Nazismo por Roma (pelo Papa Pio XII especificamente) foram feitas a garantir que Igreja Católica não mediria forças com Estado Nazista. De forma geral, enquanto os papistas gradativamente se alinharam ao governo nacional-socialista, os luteranos alemães se aproximaram do chamado protestantismo liberal – movimento de grande influencia do seculo XIX. André Tadeu explica a natureza dessa aliança:


Para muitos protestantes liberais, a Alemanha havia sido predestinada por Deus para comandar a civilização do mundo moderno. [...] O conceito da realização do reino de Deus por meio da esfera exclusivamente política – aliado a uma clara identificação com a política nacional alemã – forneceu bases teóricas para consolidar a união entre protestantismo e nazismo.


Os cristãos, uma vez alinhados ao regime nacional socialista, revisaram muitos dos pressupostos e ensinamentos bíblicos com o objetivo de combinar a religião cristã com as bases ideológicas do nazismo. Nesse sentido, o congresso de cristãos alemães realizado em 13 de novembro de 1933 em Berlim é emblemático. Durante o evento Hermann Krauser, um dos expoentes do governo, defendeu que para ser vivido na realidade alemã o cristianismo deveria ser depurado: o Antigo Testamento excluído – “com sua ética de recompensa judaica, e de todas as historias de negociantes de gado e cafetões” – assim como as contribuições do “rabino Paulo”. Nesse contexto, Jesus seria apropriado como um líder audacioso, beligerante e , principalmente, antissemita.


O grande mérito do livro do André é mostrar que o campo religioso é absolutamente necessário para entendermos o fenômeno do fascismo na Alemanha. A religião, então, nos ajuda a compreender não apenas o nazismo em si como também a organização da resistência organizada a esse movimento. É o caso da Igreja Confessante. Karl Barth é apenas um exemplo de grandes lideranças cristãs na luta contra o nazismo. Segundo ele, a comunhão entre os filhos de Deus deveria ser através do Espírito Santo e não de uma mesma e única raça. Medidas eugenistas como a esterilização em massa e eutanásia compulsória também formaram, juntamente com os argumentos teológicos, as bases da oposição cristã ao nazismo.


O nacional socialismo alemão também se fundamentou numa releitura de antigas crenças pagãs germânicas. Dietrich Eckart, um dos membros chaves do partido Nazi, defendia que as crenças pagãs eram, na verdade, um cristianismo velado. Muitos dos símbolos e mitos utilizados para estruturar o regime foram tomados de lendas e rituais nórdicos. As runas merecem destaque especial. O duplo raio usado como símbolo da SS (Schutzstaffel ) -organização paramilitar de grande poder e influência – é derivado do chamado alfabeto rúnico.


Um grupo dedicado ao culto e estudo dessas tradições se formou na Alemanha. Denominado “Comunidade de Fé Alemã”, contava com personalidades centrais do alto escalão nazista como integrantes e defendia o resgate completo dessas crenças. O trabalho de André nos mostra como alguns conflitos – pontuais, mas significativos – se deram entre os seguidores dessa dita religião germânica ancestral e o cristãos.


Por fim, o livro ainda conta com analises e explicações sobre os elementos do Hinduísmo, Budismo e até Astrológicos cooptados pelo regime nazista. Uma pesquisa completa, minuciosa e de fácil compreensão que tem tudo para se tornar uma obra referencial para todos aqueles interessados em História e Religião.


Fonte : Bule Voador



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Estou no Twitter. Grande porcaria......


Amigas e amigos, me rendi. Acabei criando um perfil no twitter. Desejando, façam parte de minha lista de amigos e me ajudem no manuseio deste negócio! Não manjo simplesmente nada!

Abaixo, meu perfil ;

http://twitter.com/andre_sp_75

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Jürgen Moltmann, um cristão reformado falando sobre quase tudo


Em 2009, participei do colóquio teológico de minha vida. Esteve presente na Universidade Metodista de São Paulo, Jürgen Moltmann, importante teólogo reformado alemão.

Moltmann faz parte daquela safra indispensável de teólogos alemães. Desconhecer sua obra é desconhecer todo o pensamento teológico contemporâneo.


Abaixo, estou republicando uma entrevista relativamente velha, datada da época em que o alemão esteve no Brasil. No entanto, como fã assumido do “teólogo da esperança”, não poderia deixar de postá-la.





Do alto de seus 82 anos de vida, o escritor, pastor e professor Jürgen Moltmann concedeu uma entrevista a CRISTIANISMO HOJE durante esta sua segunda – e, provavelmente, última – estada no país. Ele falou aos participantes de um congresso de teologia e lançou o livro Testamento teológico para a América Latina.


CRISTIANISMO HOJE: O senhor diz que esta sua viagem ao Brasil é a apresentação de seu "testamento teológico" para a América Latina. Qual seria a principal herança de sua obra?


JüRGEN MOLTMANN: O debate sobre a esperança. Precisamos de fé, esperança e amor; mas destaco que é necessário aplicar a esperança não somente na eternidade, mas também exercitá-la para que cause efeitos nos dias de hoje. A maioria dos cristãos está aguardando o céu, e não uma nova Terra, de onde brote justiça.


CH: Essa é sua proposta a partir do livro Teologia da Esperança: uma abordagem da esperança que fuja ao sentimento de resignação. Então, ela é uma força capaz de transformar o mundo?


JURGEN MOLTMANN: Exatamente. Nos tempos em que vivemos, presenciamos milagres e sinais, certamente não feitos por teólogos, mas por Deus. Acompanhamos o fim do appartheid na África do Sul e muitas outras revoluções democráticas que deixaram para trás formas de ditadura política e militar. Agora, estamos acompanhando a queda do capitalismo, tendo a oportunidade para viver em um mundo mais livre e justo. A maioria dos crentes pensa que espiritualidade é orar; porém, no Novo Testamento, aprendemos que é preciso orar e vigiar. Precisamos de uma espiritualidade dotada de sentidos – ou seja, em uma forma bem figurativa, ao invés de fechar os olhos, temos de abri-los para orar. Uma Igreja desconectada do cotidiano não tem futuro, só passado.


CH: O senhor acha que a crise atual é a derrocada do capitalismo, assim como o colapso do socialismo no fim dos anos 1980?


JURGEN MOLTMANN: Bem, não estou satisfeito com esse capitalismo. Espero que consigamos pôr em prática um capitalismo mais social, ou seja, um capitalismo em que o Estado regule de forma mais efetiva a economia. Há um bom tempo, a Alemanha vem tentando fazer isso: desenvolver uma economia social e ecológica, para que o mercado seja para o ser humano e o ser humano não seja sacrificado pelo mercado.


CH: Isso tudo está relacionado à Teologia Política, ou Teologia Pública, que o senhor inaugurou e sempre destacou?


JURGEN MOLTMANN: Sim. Isso inclui refletir o aspecto público e a justiça no Reino de Deus. A teologia pública é a política pensada teologicamente e a teologia na abordagem política; por outro lado, também é a cultura num aspecto teológico e a teologia sob o aspecto cultural. Ou seja, a teologia dialoga com a Igreja e a Igreja dialoga com a teologia. Porém, o futuro da Igreja e da teologia é o Reino de Deus, e isso tem de ser o centro de tudo. Estamos numa globalização sem globo, ou seja, a Terra não tem voz nem vez nesse processo. Precisamos de uma nova política da Terra, uma nova economia da Terra, isto é, uma nova ligação com o organismo vivo que a Terra representa.


CH: Logo, a atuação do teólogo vai muito além da Igreja...


JURGEN MOLTMANN: Claro que sim! Eu, por exemplo, já fui convidado para ser teólogo em uma faculdade de medicina.


CH: O senhor enfatiza muito a questão de um suposto sofrimento de Deus. Qual é o valor da cruz e da morte de Cristo para Deus nessa linha de pensamento?


JURGEN MOLTMANN: Deus sofre para estar próximo de todos os que sofrem por solidariedade e amor. Cristo deixou tudo para procurar aqueles que foram deixados por todos. É a nova forma de uma cristologia de solidariedade – e, como a maioria das pessoas são vítimas e não opressores, precisamos de uma cristologia que pronuncie claramente que Cristo está ao lado das vítimas e que Deus fará justiça.


CH: Paulo Freire, famoso educador brasileiro, dizia que “ninguém liberta ninguém; ninguém se liberta sozinho. Os homens se libertam em comunhão”. Esta frase, refeita de acordo com a sua teologia, talvez ficasse algo assim: “Ninguém liberta ninguém; ninguém se liberta sozinho. O homem se liberta na comunhão cristã que experimenta Deus no outro”. É nisso que o senhor acredita?


JURGEN MOLTMANN: Isso me lembra Dostoiévski, que dizia que “o ser humano deve se libertar por conta própria”. Passei pela experiência de ser um prisioneiro de guerra por três longos anos e fui liberto por Cristo. Não tive condição de libertar-me a mim mesmo. Paulo Freire tem uma posição humanista. Eu sou um teólogo cristão, apesar de contra a minha própria vontade, pois queria estudar Física e Matemática. Mas eu respeito os humanistas que querem se libertar por conta própria.


CH: Então é possível crer em Deus após Auschwitz?

JURGEN MOLTMANN: Sem dúvida. O texto O Deus crucificado é minha resposta a Auschwitz e ao horror que vivi na guerra. A minha pergunta é: em quem se deve crer depois de Auschwitz, senão em Deus?


CH: A Teologia da Libertação teve muita força aqui na América Latina, mas o senhor foi um dos poucos teólogos europeus a dialogar com essa teologia. Enfrentou muitas reações por isso?


JURGEN MOLTMANN: A maioria dos colegas não abraçou a Teologia da Libertação simplesmente porque eram ocupados e preocupados demais com suas teologias denominacionais e confessionais. Não lhes sobrava tempo para dialogar com o mundo, com as teologias ecumênicas e tudo o mais que acontecia ao redor. A resposta mais infame que já escutei sobre isso foi algo como “a teologia feminista é para a mulher, e a teologia negra é para os negros”. Eles não aceitavam o desafio que o outro pode trazer para o diálogo, aprofundando a sua própria teologia.


CH: O que dizer acerca do fundamentalismo?


JURGEN MOLTMANN: Os fundamentalistas nas igrejas protestantes deveriam ler e estudar a Bíblia e tentar entender o que temos de viver. Os bispos do Opus Dei deveriam ler os textos do Concílio Vaticano II. Eles estão esquecendo daquele legado, e isso é uma vergonha! E também é uma vergonha que os protestantes estejam lendo a Bíblia como se fosse o Corão. Deus se tornou em Cristo não um livro, mas sim, um ser humano. Por outro lado, os fundamentalistas também são seres humanos e precisam ser acolhidos, assim como as crianças, que não podem crescer sem o amor e respeito dos seus próprios pais. Eu não aconselho falar com fundamentalistas sobre o fundamentalismo, mas sobre experiências de vida e de como eles administraram os sofrimentos, desafios etc.


CH: O senhor foi colega de docência do teólogo alemão Joseph Ratzinger, hoje o papa Bento XVI. Conte sobre essa experiência.

JURGEN MOLTMANN: Ratzinger passou por uma experiência traumática em 1968, época da revolução estudantil. Na época, ele passou por um medo apocalíptico, com uma idéia fixa no diabo – destaco que ele escreveu isso em sua biografia, portanto não se trata de difamação. E desde então, ele tenta combater o marxismo ateísta. Só que esse marximo não existe mais na Europa. Na sua última encíclica, a da Esperança, ele gastou três páginas para matar o marxismo. E eu lhe escrevi uma carta dizendo: “Você matou um cadáver”. É por isso que Bento XVI persegue tanto os teólogos da libertação, porque, segundo sua concepção, isso se trata de marxismo. Gente como Jon Sobrinho e Leonardo Boff não são marxistas, isso é uma besteira!


CH: E o que o senhor pensa sobre o papado?


JURGEN MOLTMANN: Não o considero uma instituição evangélica.


CH: Quais os seus livros prediletos?


JURGEN MOLTMANN: A Bíblia, especialmente o Antigo Testamento; O princípio da esperança, de Ernst Bloch; e A dogmática da Igreja, de Karl Barth. Mas este último tem cerca de 8 mil páginas... [risos].


CH: A despeito de todos os adjetivos que lhe devotam, como o senhor gostaria de ser lembrado?


JURGEN MOLTMANN: Sou apenas um simples cristão que busca entender sua fé. Nada além disso.




sábado, 12 de fevereiro de 2011

Humor futebolístico


Leitoras e leitores simpáticos ao Sport Clube Corinthians Paulista, me perdoem, mas não resisti....

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Anselmo Borges : Conviver com a natureza e os animais



Considero Tribo de Jacob, blog católico lusitano, um dos melhores espaços virtuais dentro do universo cristão em língua portuguesa. Feito com muito esmero pelo meu amigo Jorge Pires Ferreira, divulga notas interessantíssimas de uma forma compacta e clara, facilitando a leitura.

Além da diversidade temática, o endereço católico mantém uma linha ecumênica bastante interessante. Recomendo a visita.

Abaixo, estou publicando um texto que gostei muito. Espero que também apreciem


Por Anselmo Borges


Um amigo jesuíta, Juan Masiá, que vive há trinta anos no Japão, contou-me uma história muito significativa, passada numa paróquia japonesa. O missionário estrangeiro começou a notar que os paroquianos deixaram de frequentar a missa por ele celebrada. Intrigado, decidiu informar-se discretamente. Foi recebendo respostas evasivas, até que alguém ganhou coragem e lhe disse: "É por causa do gato." Achou estranho, embora se lembrasse de que uns meses antes tinha agarrado pelo rabo um gato vadio que andava pela cozinha e o tinha atirado contra a parede. No entanto, não via razão para o afastamento dos paroquianos. Quando tentaram explicar-lhe, disse-lhes, indignado: "Tanto esforço para ensinar-vos que o ser humano tem alma e os animais não e agora ficais chateados por causa da morte do gato, um animal irracional?!" Mas os cristãos responderam-lhe: "O problema não é a alma do gato, se tem ou não tem alma. O problema é você. Que terá no íntimo do coração, se foi capaz de a sangue frio esborrachar o gato contra a parede?"

Ainda se continua a escrever aqui e ali: "proibida a entrada de animais", "no animals", esquecendo que os seres humanos também são animais. É necessário tomar consciência de que a humanidade não se pode pensar isolada, pois fazemos parte da comunidade natural da vida, em relação com animais e plantas, respirando o mesmo ar, tendo a mesma exigência de alimentação e água, na mesma terra e sob o mesmo céu, o que implica, contra o monopólio antropocêntrico explorador e dominador, um paradigma holístico de existência.

O cristianismo é agora apresentado como sendo um dos responsáveis pelo antropocentrismo arrogante e pela crise ecológica, por causa da ordem de Deus aos seres humanos no Gênesis: "Dominai a terra." Mas, como reconhecem os exegetas, trata-se de uma interpretação errada da Bíblia, já que o que lá se encontra nada tem a ver com domínio despótico, mas apenas com guardar e cuidar da Criação, contribuindo para o seu aperfeiçoamento responsável, no quadro de um desenvolvimento harmónico do conjunto de todas as criaturas. Aliás, a aliança de Deus, depois do dilúvio, simbolizada pelo arco-íris, inclui todas as criaturas.

Há dois extremismos a evitar. O antropocentrismo tecnocientífico moderno, que vê o homem fora da natureza e o coloca na posição de sujeito objectivante e explorador da natureza, como se esta não tivesse valor próprio e se reduzisse a um reservatório de energias a dominar. A chamada deep ecology, que invoca uma natureza divinizada, encerra o homem na totalidade naturalista, cósmico-biológica, esquecendo a sua singularidade única de pessoa.

Assim, independentemente do debate sobre os direitos dos animais, a analisar em artigo próximo, não há dúvida de que temos obrigações para com eles, concretamente quando se reflecte no seu sofrimento. São inadmissíveis a tortura e a crueldade bem como sofrimentos desnecessários. Neste contexto, é necessário pôr em causa, por exemplo, as touradas.

Mesmo Kant, que só reconhecia direitos às pessoas como fins em si, referiu a insensibilidade face aos animais como reveladora de desumanidade e anti-educativa, tendo escrito: "Aquele que se comporta cruelmente com os animais possui também um coração endurecido com os humanos", de tal modo que "se pode conhecer o coração humano a partir da sua relação com os animais". Admitiu alguma experimentação com animais, mas opôs-se à experimentação irresponsável, concretamente à vivissecção.

Sobre esta problemática lê-se no Tratado de Lisboa: "Na definição e aplicação das políticas da União nos domínios da agricultura, da pesca, dos transportes, do mercado interno, da investigação e desenvolvimento tecnológico e do espaço, a União e os Estados membros terão plenamente em conta as exigências em matéria de bem-estar dos animais, enquanto seres sensíveis, respeitando simultaneamente as disposições legislativas e administrativas e os costumes dos Estados membros, nomeadamente em matéria de ritos religiosos, tradições culturais e património regional".

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A Contribuição feminina no moderno pensamento cristão



Jesus Cristo tinha um comportamento completamente revolucionário em seu relacionamento com as mulheres de sua época. Ao contrário de parcela significativa dos líderes religiosos, políticos e filosóficos influentes de seu contexto histórico, convivia com o gênero feminino de forma igualitária. São numerosas as passagens bíblicas que revelam diálogos surpreendentes entre Cristo e personagens femininas, sendo que, em determinados casos, o próprio mestre deixou-se persuadir pelos argumentos de desprezadas mulheres, mudando, até mesmo, de opinião (Mc 7.24-30). Os quatro evangelhos narram a participação decisiva de mulheres no ministério de Jesus, destacando-se a figura de Maria Madalena, considerada por verdadeiros gigantes da teologia cristã, como Gregório de Antioquia e Pedro Abelardo, apóstola dos apóstolos.

Ainda no início do movimento cristão, a participação feminina, até mesmo em postos de comando e influência, foi atestada pela própria Bíblia. Personagens como Lídia, Febe, Priscila, Junia, Evódia, Síntique comprovam esta tese.

No entanto, com o passar do tempo e com a institucionalização do cristianismo, este absorveu boa parte do machismo predominante na sociedade como um todo. Desta forma, a influência feminina na jovem igreja cristã foi, gradativamente, relegada a segundo plano.

Durante todo o período medieval e até mesmo na época da reforma protestante, raras vozes femininas foram ouvidas. Pregadoras leigas valdenses e posteriormente calvinistas, assim como místicas católicas, como Teresa de Ávila, compunham uma minoria bastante reprimida.

Foi apenas no final do século XIX que o pensamento teológico feminista deu seus primeiros passos, tendo como ponto de partida o projeto desenvolvido pela presbiteriana estadunidense Elisabeth Cady Stanton, denominado A Bíblia da Mulher. Importante líder abolicionista e feminista em seu país, Cady Stanton, como cristã, não aceitava a interpretação machista das Escrituras. Assim, com outras mulheres versadas nas línguas bíblicas originais, publicou, entre 1895 e 1898, dois volumes voltados à interpretação do texto sagrado sob um prisma feminino. A Bíblia da Mulher tinha como meta ressaltar a importância do sexo feminino na história sagrada, assim como reinterpretar de uma forma libertária os textos considerados machistas e preconceituosos.

Após este primeiro estágio, a assim chamada teologia feminista seguiu linhas diferentes. Algumas teólogas abandonaram por completo o cristianismo por considerá-lo incompatível com a luta em prol da emancipação feminina. É o caso da anteriormente católica Mary Daly, que afirma em sua obra “Além de Deus, o Pai”, que a linguagem fundadora do cristianismo é voltada, exclusivamente, para a manutenção do poder masculino. Outras, como Carol Christ, Elga Sorge e Elizabeth Gould Davis, decidiram retornar às antigas tradições pagãs, onde o culto a divindades femininas era bastante influente. Também houve uma revitalização por parte destas pensadoras da antiga forma de magia celta denominada Wicca, sendo as principais divulgadoras Miriam Simos e Zsuzsanna Budapest.

Não obstante esta radical ruptura com a tradição judaico-cristã promovida por algumas religiosas, parcela majoritária das teólogas permaneceu dentro do cristianismo, tendo como meta continuar o trabalho iniciado por Cady Stanton e suas colegas. Dentre este grupo predominante, destacam-se os nomes de Rosemary Ruether e Elisabeth Fiorenza.

Ligadas ao catolicismo romano, escreveram teses fundamentais para que a teologia feminista cristã atingisse a maturidade. Dentre os vários livros de autoria de Elisabeth Fiorenza, podemos destacar o clássico “Em Memória Dela”, onde o importante papel histórico exercido pelas mulheres na formação do cristianismo é relembrado. Já a principal obra de Rosemary Ruether, “O Sexismo e a linguagem sobre Deus”, procura oferecer uma teologia sistemática cristã com claro enfoque feminista.
Porém, como já foi comentado, o pensamento teológico feminista cristão teve seu nascedouro dentro do protestantismo. Desta forma, vamos nos ater a algumas mulheres de confissão evangélica responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento cristão ao redor do mundo.

Suzanne de Diétrich (1891-1981)

Não podemos considerar esta francesa como uma teóloga feminista, já que sua teologia não tinha como foco primordial a situação da mulher. Mas a importância desta leiga vinculada à Igreja Reformada de seu país prova de maneira cabal a dedicação de várias mulheres no desenvolvimento do cristianismo.

Portadora de uma grave deficiência física que dificultava sua locomoção, esta engenheira eletricista teve um papel fundamental na articulação dos movimentos estudantis cristãos na primeira metade do século XX, chegando a fazer parte do Comitê Executivo da Federação Mundial de Estudantes Cristãos. Entusiasta do movimento ecumênico foi, por um bom tempo, instrutora do Instituto Ecumênico Bossey, vinculado ao Conselho Mundial de Igrejas. No aspecto teológico, a grande contribuição de Suzanne pode ser percebida na forma como a mesma interpretava a Bíblia Sagrada. Claramente influenciada pela teologia dialética de Karl Barth e Emil Brunner, procurava transmitir a mensagem central do texto purificada das meras tradições humanas. Deixou verdadeiras pérolas no tocante a interpretação bíblica. Dentre vários livros, podemos destacar: “A Descoberta da Bíblia”, “Uma Palavra Sempre Viva”,Como ler a Bíblia hoje?” e “O Desígnio de Deus”.

Jane Dempsey Douglas (1933- )

Teóloga estadunidense, é professora emérita de teologia histórica na Universidade de Princeton (EUA). Vinculada à Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA), foi presidente da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas entre 1990-1997. Sua produção literária e acadêmica é bastante vasta, estando focada em uma interpretação contemporânea da tradição reformada, em questões sociais e, principalmente, no relacionamento entre mulheres e o cristianismo. Dentre suas várias obras, é digna de destaque “Mulheres, Liberdade e Calvino”, onde mostra que o reformador francês foi o mais aberto e progressista no tocante ao papel da mulher na sociedade e na igreja. Segundo Jane Douglas, Calvino considerava as restrições paulinas a respeito da atuação feminina na igreja vinculadas a um determinado contexto social. Assim, deveriam ser abolidas em um futuro próximo.

Elsa Tamez (1951- )

Metodista mexicana, é uma das principais expoentes da Teologia da Libertação Latino-Americana. Reside e trabalha na Costa Rica, exercendo seu ministério como biblista e professora na Universidade Bíblica Latino-Americana, da qual foi reitora por vários anos. É casada e mãe de dois filhos. Doutora em teologia pela Universidade de Lausanne, Suíça, foi membro com destaque na comissão de educação teológica do Conselho Mundial de Igrejas, contribuindo com numerosas organizações, como o Conselho Latino-Americano de Igrejas, Conselho Metodista Mundial e a Associação de Teólogos do Terceiro Mundo. Como teóloga da libertação, Elsa se divide entre a temática social e a questão de gênero, sendo o feminismo cristão assunto constante em seus escritos.

Seu livro “As Mulheres no movimento de Jesus, o Cristo” demonstra a atitude libertadora de Jesus para com as mulheres e a posição de destaque que elas ocuparam nas primeiras comunidades cristãs. Outras obras são dignas de menção: “A Bíblia dos Oprimidos” e “A Hora da Vida- Leituras Bíblicas”, onde a conversão a Cristo não é interpretada de uma forma meramente individual ou moralista, mas como uma radical mudança em prol da vida. Através do processo de conversão, o crente ingressa em um verdadeiro combate contra todo o tipo de opressão, discriminação e injustiça social.

Elaine Storkey (1943- )

Teóloga, filósofa e socióloga inglesa, é uma das principais expoentes do feminismo evangélico. Ligada ao grupo evangélico da Igreja Anglicana Britânica, escreveu, em 1985, “O Que Está Certo no Feminismo”. Nos dizeres de Tony Lane, doutor em teologia pelo London Bible College: “ Elaine insiste num feminismo biblicamente baseado como o terceiro caminho entre o antifeminismo cristão e um feminismo que se separa do ensino bíblico”. O trecho abaixo escrito por Elaine confirma a percepção de Lane:

As feministas cristãs não estão querendo qualquer batalha de poder com os homens. Isto seria estranho à sua agenda. Nem estão querendo construir uma realidade totalmente feminina que lave suas mãos de qualquer envolvimento com o outro sexo. Mas elas não estão felizes simplesmente por se introduzirem num alçapão assinalado mulher e viverem suas vidas de acordo com um jogo de valores culturais determinados e essencialmente não-bíblicos. A mensagem que elas trazem é uma mensagem de libertação, e é para os homens também”.

Além da atividade decisiva destas mulheres em prol da teologia cristã, muitas outras exercem uma profícua missão no campo do pensamento cristão. Em nosso continente latino americano, podemos destacar o trabalho realizado pela pastora presbiteriana cubana Ofélia Ortega, reitora do Seminário Teológico Evangélico de Matanzas e secretária executiva por quase uma década do Programa de Educação Teológica para América Latina e Caribe do Conselho Mundial de Igrejas. No Brasil, onde a teologia feminista cristã ainda engatinha, as metodistas Sandra Duarte de Souza e Tânia Sampaio representam o que de melhor e mais avançado há nesta linha teológica.

Ao contrário do que é pregado por grupos fundamentalistas, o desenvolvimento de uma teologia feminista de cunho claramente cristã, acompanhada por uma crescente participação das mulheres nos mais diversos ministérios ordenados, chegando, muitas vezes, a postos de liderança em muitas denominações, não reflete nenhum tipo de apostasia, mas, sim, o retorno aos tempos iniciais do cristianismo, quando homens e mulheres, seguindo de forma clara o exemplo de Jesus Cristo, exerciam o ministério em pé de igualdade.

Por André Tadeu de Oliveira



A Tradição Reformada - Uma Maneira de ser a comunidade Cristã - John H. Leith (Apêndice G: Ricardo W. Irwin e Eduardo Galasso Faria) Pendão Real.



Maria Madalena - Uma Perspectiva Feminina das Origens Cristãs - Priscila C. Nagatomo - Editora Reflexão.



Dicionário Brasileiro de Teologia - ASTE.



A Teologia do Século XX - Rosino Gibellini – Loyola.



Pensamento Cristão - Da Reforma à Modernidade - Tony Lane - Abba Press.



A Tapeçaria da Teologia Cristã - Gregory C. Higgins –-Loyola.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Simone Weil, a filósofa da Graça


Ainda bastante desconhecida no Brasil, principalmente no meio evangélico, a vida e obra da filósofa francesa Simone Weil são um testemunho contumaz do poder e eficácia da graça divina.

Nascida em Paris, em 3/2/1909, foi criada no seio de uma família judia claramente agnóstica. Seu pai, Bernard, um médico de origem alemã, e sua mãe, Salomea Reinherz, formavam um casal bastante feliz e harmonioso.

Junto com seu irmão André, que posteriormente se tornaria um matemático de renome, Simone cresceu em um lar absolutamente indiferente a assuntos religiosos. No lugar das histórias do povo hebreu narradas no Antigo Testamento, os irmãos Weil foram introduzidos ao mundo dos contos e fábulas dos conhecidos escritores alemães, os irmãos Grimm, e na rica mitologia grega. O amor à leitura era tão grande que, aos cinco anos, Simone já tinha aprendido a ler, tendo escrito, com apenas 10 anos, sua primeira obra, um pequeno conto chamado “Os duendes do fogo”.

Inteligência precoce, a jovem judia parisiense passou por uma grande crise interna, cobrando a si própria e considerando seus conhecimentos insuficientes. Não obstante, com 15 anos obteve seu bacharelado em filosofia, tendo passado mais 3 anos em intensa preparação acadêmica, a fim de aperfeiçoar seus conhecimentos filosóficos na renomada Escola Superior de Paris. Este período, sob a orientação do pensador Emile Chartier, seria fundamental para toda a futura existência de Simone. Além de Platão, Descartes, Kant, Hegel e Marx, a até então estudante não religiosa teria seus primeiros contatos com a história das grandes religiões mundiais. Foi, também, uma das primeiras mulheres a se graduar em tão prestigiosa instituição.

Em 1931, foi nomeada professora de filosofia em uma escola para moças na cidade de Le Puy. Refletindo o recente interesse adquirido por assuntos religiosos, Simone escreveu a seguinte carta a seus pais: “Peço-vos enviar-me o Novo Testamento em grego que está em minha biblioteca. Foi o passo inicial da atuação da graça divina em sua vida. Ao mesmo tempo, experimenta inúmeros problemas de saúde, sendo a enxaqueca um mal que iria acompanhá-la até seus últimos dias.

Neste período como professora, Simone iniciou seu trabalho político. Acompanhou de perto o sofrimento dos operários da pequena Le Puy. Ingressando no movimento sindical, foi a principal organizadora de uma greve geral que iria paralisar toda a cidade. Como resultado, foi convidada a se retirar.

Aproveitando o período de férias de verão, Simone viaja até a Alemanha, onde presenciou o crescimento do nazismo. Foi uma das primeiras pessoas, em 1932, a denunciar a barbárie que tomou conta de toda a Alemanha, assim como a passividade dos social-democratas e o estranho silêncio dos comunistas stalinistas. De volta à França, continuou seu trabalho como professora em Auxerre, Roanne e Saint-Etienne, nesta última, dando aulas gratuitas aos mineiros.

Consciente de que sua atuação como professora seria insuficiente para fazê-la compreender a vida real de um operário, Simone licenciou-se do magistério e ingressou, em 1934, no corpo de funcionários da Renault, conhecida fábrica de automóveis franceses. Devido à sua frágil saúde, não suportou o pesado ritmo da linha de montagem, abandonando este projeto. Após retomar, a contragosto, a docência na cidade de Bourges, dedicou parte de seu tempo ao trabalho agrícola em uma pequena fazenda da região. Agora conhecia, na prática, a exploração cometida contra operários e camponeses.

Insatisfeita com o crescimento do fascismo na Europa, alistou-se, em 1936, como voluntária em uma brigada anarquista na guerra civil espanhola. Lá, teve sua grande decepção com a natureza humana. Presenciou cenas de barbárie praticadas não apenas por fascistas, mas pelos defensores da liberdade: anarquistas, comunistas e republicanos em geral. Completamente despreparada para a vida militar, foi resgatada por seus familiares.

Estimulada pelos pais, iniciou uma viagem que alterou completamente o rumo de sua vida. Passando pela Itália, Simone participou de cerimônias religiosas nas grandes catedrais, sendo tocada pela beleza do cristianismo. Começou a enxergar uma beleza “mística” nas obras renascentistas. Visitando a pequena cidade de Assis, uma grande experiência seria o marco inicial de sua conversão ao cristianismo. Ao entrar na pequena capela reformada por Francisco de Assis no século XIII, a agnóstica Simone foi tomada por um sentimento indescritível. “Algo mais forte que eu me obrigou, pela primeira vez na minha vida, a me por de joelhos e orar, narra a filósofa em escritos posteriores. Foi o início de um processo de descoberta do Cristo vivo, processo este não buscado por si própria, mas fruto da misteriosa e irresistível graça de Deus.

De volta a seu país, reiniciou o magistério na pequena cidade operária de Saint-Quentin. Ao mesmo tempo, devora parte da Bíblia, principalmente os livros de Jó, Isaías e Daniel, assim como todo o Novo Testamento em grego. Em abril de 1938, sua jornada espiritual chegou ao ápice. Durante a semana santa, Simone participou das cerimônias realizadas na abadia católica de Solesmes. A solene liturgia, o silêncio e os cantos a tocaram profundamente. “Senti (sem estar absolutamente preparada para tanto, uma vez que jamais li os místicos) uma presença mais pessoal, mais certa, mais real do que a de um ser humano, inacessível aos sentidos e à imaginação, análoga ao amor que transparece do mais terno sorriso de ser amado. A partir daquele momento, o nome de Deus e de Cristo se entrelaçaram de modo cada vez mais irresistível aos meus pensamentos”. Tal experiência foi à confirmação do fato ocorrido em Assis.

Agora como cristã, continua sua intensa leitura bíblica. Iniciou uma bela e fecunda amizade com o padre católico-romano Joseph Marie Perrin e com leigos católicos e evangélicos. Neste mesmo período, inúmeras experiências místicas a marcaram. Ao mesmo tempo, não abandonou sua luta pela justiça, continuando a denunciar as mazelas do capitalismo, o autoritarismo do regime soviético e o crescimento do nazi-fascismo.


Apesar de cristã convicta, recusou-se a receber o batismo oferecido pelo simpático padre Perrin por não concordar com a doutrina romana, que considerava a verdadeira igreja de Cristo uma instituição centralizada em Roma. Mesmo de forma inconsciente, Simone fazia eco ao tradicional conceito protestante de que a igreja cristã não está restrita a uma denominação, mas sim no conjunto de todos os crentes. Fora isto, sentia que sua missão deveria ser exercida fora dos muros da igreja, entre aqueles que não faziam parte da igreja oficial.

Com a queda da França diante da Alemanha nazista, Simone, pelo fato de ser judia, foi excluída do magistério. Passou algum tempo reclusa em uma empresa agrícola, onde uniu o trabalho à oração. No entanto, a situação para judeus na França ocupada tornou-se insustentável. Em 14/5/1942, junto com seus pais, imigrou para Nova York. Lá chegando, vive uma rica experiência cristã ecumênica. Além de participar vividamente das atividades dos católicos exilados franceses, enriqueceu sua espiritualidade com os batistas negros nos subúrbios da grande metrópole estadunidense.

Após breve período nos EUA, mudou-se para Londres, Inglaterra, onde participou ativamente da resistência francesa, sendo correspondente do jornal “France Libre”. Sua saúde piorou gradativamente, sendo acometida por uma tuberculose. Faleceu no dia 24/8/1943, no sanatório Ashford, com apenas 34 anos de idade. Segundo alguns biógrafos, Simone recebeu, em seu leito de morte, o sacramento do batismo das mãos de uma mulher leiga, sua amiga Simone Deitz.

A vida e a obra de Simone Weil são verdadeiros resumos da forma graciosa e soberana da atuação divina. Sem qualquer propensão a religiosidade, Simone foi atraída para Cristo. Sem deixar de lado o conhecimento, tanto teológico como filosófico, a jovem francesa deu prioridade à comunhão íntima com Deus. Tal comunhão não se contentou com a mera contemplação, mas exigiu uma atuação real e contundente. Uma vocação neste mundo.

Fiel à doutrina da cruz, a filósofa, militante política e cristã Simone Weil nos ensina que Deus se faz conhecido no sofrimento, nas vicissitudes, e não em uma vida de prazer e prosperidade. Em resumo, encontramos nesta singular personalidade uma feliz filósofa da graça.

Simone Weil por ela mesma:

Há indivíduos que procuram elevar sua alma como um homem que salta sempre com os pés juntos, na esperança de que a força de saltar cada vez mais alto consiga, um dia, em vez de sempre cair, subir até o céu. Porém, não podemos dar sequer um passo em direção ao céu; a direção vertical está fechada para nós. Mas, se fitarmos demoradamente o céu, é Deus que desce e nos arrebata”.

A amizade não se procura, não se sonha, não se deseja; se exerce
!”

Fonte: Abismos e Ápices, Giulia Paola Di Nicola e Attilio Danese, Edições Loyola.

POR ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Minha primeira liturgia


Abaixo, estou publicando minha primeira liturgia. Além de prepará-la, fui o principal celebrante e pregador. Esta liturgia foi à base do culto deste último domingo, dia 16, na Congregação Presbiteriana Independente do Jardim Santa Fé, região oeste da capital paulista. Para minha surpresa, os membros, majoritariamente humildes, já estão habituados a uma liturgia mais trabalhada e rica em simbolismo cristão. Santa Fé é uma prova cabal de que mau gosto litúrgico não possui nenhuma vinculação com camadas socialmente mais humildes.


As leituras bíblicas realizadas no terceiro momento da celebração, denominado “ Momento de Louvor”, foram retiradas do lecionário ecumênico mundial e estão de acordo com o período litúrgico que estamos vivendo, o Tempo Comum.

O Lecionário Ecumênico possui duas finalidades para o culto:


Unir todos os cristãos espalhados pelo mundo, independentemente de sua tradição confessional, através da leitura bíblica.


• Realizar estas leituras tendo como base o calendário litúrgico cristão. O calendário litúrgico é essencial para uma noção pedagógica do culto cristão, pois somos instruídos a respeito da ação da Deus na história humana em diferentes períodos.

SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM


COR LITÚRGICA: VERDE

I - Adoração



• Prelúdio/ Conjunto de Flautas
• Convite à adoração: Salmo 117 – Leitura em uníssono
• Hino de Adoração: Ó Rei Sublime – CTP 29
• Oração de Adoração

ll - Contrição


• Leitura Bíblica Alternada: 1João 1. 8- 10
• Hino: Que estou fazendo? CTP – 297
• Oração Silenciosa.
• Litania de Confissão:

Oficiante: Pai Santo, confessamos que temos falhado em amar-te de todo coração, alma e mente. Temos ignorado os teus mandamentos, e nos desviado dos teus caminhos.

Povo: Em tua misericórdia, ouve nossa oração.


Oficiante: Senhor Jesus Cristo, confessamos que não temos amado o nosso próximo como nós mesmos. Temos falhado em servir aos necessitados e em levar a tua história de amor para toda criatura.


Povo: Em tua misericórdia, ouve nossa oração.


Oficiante: Santo Espírito, confessamos que somos lentos em responder ao teu impulso. Preferimos seguir nossa própria vontade, insensíveis à tua presença insistente.

Povo: Em tua misericórdia, ouve nossa oração.


Oficiante: Bendita Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, tem piedade de nós. Perdoa nosso pecado e ressuscita-nos para uma vida nova, a fim de que possamos servir-te e honrar o teu santo nome.

• Hino: A Alegria Está No Coração: CTP- 50

III - Momento de Louvor

• Cântico
• Leitura do Velho Testamento: Isaías 49. 1-7
• Cântico
• Leitura do Novo Testamento: 1 Coríntios 1.1-9
• Ofertório
• Oração de Intercessão

IV - Edificação


• Oração de Iluminação para a Leitura Bíblica
• Leitura Bíblica pelo pregador
• Proclamação da Palavra
• Oração
• Hino: Fortalece A Tua Igreja – CTP 151

V - Serviço e Missão


Afirmação de Fé (Livro Anglicano de Oração Comum, 1549): Creio em Deus, o Pai, que me criou e criou o mundo. Creio em Deus, o Filho, que me redime e redime todos os homens. Creio em Deus, o Espírito Santo, que me santifica e santifica a todos os eleitos de Deus.
• Oração do Pai Nosso
• Moto: “Buscando a Deus e a Felicidade da Família”
• Bênção e Poslúdio / Conjunto de Flautas
• Avisos e Agradecimentos

sábado, 15 de janeiro de 2011

Isto é Mackenzie ! Minha formatura


Ontem foi um dia bastante marcante em minha vida. Após quatro anos de estudos, noites em claro e várias divagações, colei grau como bacharel em teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Pensei muito em escrever este breve post, pois não sou nenhum garoto de 22 anos. Além do mais, trata-se de minha segunda graduação. Porém, encaro como sendo a minha verdadeira graduação.

Jornalista diplomado, uma espécie nos dias de hoje absolutamente desnecessária, graças ao forte lobby dos grandes meios de comunicação, confesso que me arrependi em ter cursado jornalismo. Adoro escrever. Acredito que faço isso razoavelmente. Também amo ler quase tudo que encontro na minha frente. Tenho revistas e jornais de mais de 15 anos atrás. Coisas completamente inúteis aos olhos de outras pessoas. Aos meus, não!

No entanto, sei que escrever razoavelmente não é uma qualidade restrita aos comunicólogos. A mesma coisa pode ser afirmada a respeito do importante hábito da leitura. Pessoas de outras áreas acadêmicas, e até mesmo sem nenhuma formação específica, possuem ambas as qualidades.

Assim, tenho certeza que se tivesse cursado história, sociologia ou filosofia, estaria com um leque de conhecimento bem maior. Mas como diz o famoso ditado, não adianta chorar o leite derramado!

Acredito que me encontrei. Desde que retornei ao cristianismo, em 2002, adquiri o hábito de consumir muita literatura teológica. Devido ao meu importante e enriquecedor período como agnóstico, confesso, minhas novas leituras teológicas voltaram-se mais para o campo progressista dentro da teologia cristã. Não ao chamado liberalismo clássico, visão que, erroneamente, muitos associam a minha pessoa. Não suporto rótulos, principalmente teológicos, mas poderia ser enquadrado em uma certa “neo-ortodoxia de esquerda” ou em um “ liberalismo evangélico”. Contudo, após um longo período alimentado por um saudável e importante ceticismo, não poderia ser o antigo “fundamentalista light” dos meus tempos de adolescente. Na minha modesta opinião, o(a) bom(a) teólogo(a) cristão(a)deve seguir a cartilha de John H. Leith, importante teólogo presbiteriano estadunidense, infelizmente já falecido. Vejamos o pensamento de Leith :

“A tradição viva e aberta da Igreja possui componentes liberais e conservadores. Ela assimilou a sabedoria do passado e está aberta ao futuro. Os bons teólogos examinam sua própria tradição no contexto da teologia e da Igreja toda. E a Igreja precisa aprender não só com aqueles que a amam, mas também com aqueles que a rejeitam, como os marxistas”.

Em 2006, um ano antes de ter sido aprovado no vestibular do Mackenzie, comecei esta labuta teológica em uma esfera pública. Foi publicado pela Revista Alvorada, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, meu primeiro texto. Abordei um pouco da história de Dietrich Bonhoeffer, célebre teólogo e mártir luterano alemão, enfocando em uma possível influência para o jovem cristão do século XXI. Inclusive, serei eternamente grato a editora da revista, a querida Sheila Amorim. Nunca sofri nenhum tipo de censura neste importante órgão de comunicação presbiteriano independente . E olha que escrevi algumas matérias relativamente polêmicas dentro do ambiente evangélico brasileiro.

No final do mesmo ano, passei no vestibular do Mackenzie, uma universidade bastante conceituada em todo o Brasil, estando entre as quatro melhores dentre as inúmeras entidades de ensino superior ligadas à iniciativa privada no país . Aliás, como nós, mackenzistas, com um pouco de arrogância, gostamos de dizer; “ 140 anos de história não é para qualquer um !”

Em 2007, iniciei meus estudos. Foram quatro anos de bastante aprendizado. Além do conhecimento acadêmico, fiz grandes amigos e vivi o ambiente universitário com intensidade.

Agradeço a Deus, e ao Mackenzie, por esta oportunidade.

Por André Tadeu de Oliveira.

Abaixo, algumas fotos da cerimônia de colação de grau. Estou ao lado de meu pai e irmão.